Psicoterapia Integral

O filósofo contemporâneo Ken Wilber sugere que reconheçamos nossos talentos para que possamos oferecer ao mundo o que temos de melhor.  “Seja você do modo mais pleno e belo possível, mas lembre-se de que a vida não é negociável, ela pertence aos deuses, e cabe a você honrá-la e recriá-la com todos os seus talentos, educados e expandidos ao máximo” (SALLIS). Isto significa tornar-se um ‘indivíduo’, aquele que não se divide, e o que não se divide em última instância é a libido, assim um indivíduo pleno é dono da sua força de vontade.

O autoconhecimento possibilita o desenvolvimento do processo de individuação enquanto a realização do vir-a-ser do humano, cujo objetivo final é a integração da consciência com o inconsciente. Neste caminho, a posição do ego fica relativizada pela sua conciliação com o inconsciente. O ego é, então, assimilado ao “Si – Mesmo”. Essa integração total do Si – Mesmo, embora seja um ideal de perfeição impossível de ser alcançado, pode ser buscada como meta” (GRINBERG, 1997).

O autoconhecimento é fundamental ainda no reconhecimento dos bloqueios que dificultam o desenvolvimento de todos os potenciais, impedindo assim o processo de individuação. Por isso, “é importantíssimo transformarmos nosso relacionamento com o medo, aprendendo maneiras de trazê-lo para a consciência, a fim de aceitá-lo, respeitá-lo e aprender com ele” (GILLEY, 2003). Isto significa trazer luz à escuridão e Iluminar a sombra. “Se o encontro com a sombra é obra de aprendiz, o encontro com a alma é nossa obra-prima” (Carl Gustav Jung).

O ser humano comum vive apenas para a satisfação de suas necessidades. Ele é movido pela recompensa e a punição. O ser humano virtuoso tenta dominar sua avidez e trabalhar para o bem estar do seu semelhante. Ele pode ser considerado um aprendiz da humanidade. Para viajar precisamos estar preparados. É necessário desenvolver nossa inteligência intrapessoal, aquela capaz de nos guiar na noite escura e de nos fazer encontrar abrigos na floresta dos sonhos que vão se identificando aos mitos até se perderem em pura informação, capaz de dar sentido às emoções.

O nobre sabe que o sentido da vida humana consiste em entender e realizar o próprio destino, portanto vive em sintonia com suas possibilidades de desenvolvimento. O nobre educa a si mesmo e tenta conjugar a realização terrena à determinação celeste. Ele é a medida e o meio. É a pessoa do caminho, portanto, do aprendizado. O predestinado não só precisa realizar seu destino pessoal, mas também mostrar e esclarecer o seu conhecimento sobre o sentido e o objetivo da existência humana. Ele se liga à tradição, e torna-se ele mesmo um antepassado” (Francisco Fialho).

Desenvolver a inteligência intrapessoal demanda o domínio das quatro artes: o autodomínio, o autoconhecimento, a amorosidade e a transcendência. “Conhece-te a ti mesmo.” O Herói é aquele que liberta sua alma aprisionada na escuridão (na caverna) e busca a luz, o conhecimento de si mesmo. (Sócrates). O Mago é aquele que, livre da escuridão (a ignorância), usa sua varinha mágica (o conhecimento) para iluminar o seu caminho e o do outro. “Nada é mais urgente no processo de formar um homem do que ensiná-lo a respeitar as fronteiras e os limites de si e do outro, pois somente assim poderá nascer o respeito” (SALLIS, 2003).

Para isso devemos limpar o corpo e a alma, que significa o trabalho com a sombra. Devemos realizar a higiene da alma, “que nada mais é do que jogar fora os rancores, os mal-entendidos, as tristezas e as angústias e tanto lixo que acumulamos no dia-a-dia. Sem essa faxina diária, não haverá saúde que aguente o passar implacável dos anos” (SALLIS, 2003).

O autoconhecimento demanda descobrir nossos talentos e desenvolver a intuição. “Talvez o que esteja sendo pedido a nós agora é criar um alinhamento entre as naturezas, entre a alma das pessoas e a alma do mundo, uma relação necessária à saúde de tudo o que vive em nosso mundo Terra”. Como diz Stephen Aizenstat “Deixa o caráter ser formado pela poesia, fixado pelas leis do bom comportamento, e aperfeiçoado pela música. Deves ter a cabeça sempre fria, o coração sempre quente e a mão sempre larga.”

É um momento de expressar-se no mundo ou de tornar-se consciente do seu próprio potencial e vivenciar a sua totalidade. “Além de conter desejos, memórias e instintos reprimidos, o inconsciente está sempre agrupando e reagrupando símbolos e imagens, produzindo sem cessar sonhos e fantasias, funcionando como uma matriz autônoma criadora da vida psíquica normal. (GRINBERG, 1997, p. 82).

“Dois terços do que nós vemos está por trás dos nossos olhos” (Provérbio Chinês). Quando o inconsciente é examinado, descobrimos um mundo de heróis, rainhas, senhores, escravos, etc. Só uma psicologia baseada no entendimento de como essas imagens arquetípicas formam todas as atividades culturais e criativas pode fazer justiça às realidades múltiplas que chamamos ALMA.

A “sombra” é um arquétipo do inconsciente coletivo e representa aspectos rejeitados e reprimidos da personalidade. O que somos? O que é o humano? Habitualmente pensamos no ser humano como um ser racional, e frequentemente declaramos em nosso discurso que o que distingue o ser humano dos outros animais é seu ser racional.

Dizer que a razão caracteriza o humano é um prejuízo, porque nos deixa cegos frente à emoção, que fica desvalorizada como algo animal ou como algo que nega o racional. Quer dizer, ao nos declararmos seres racionais vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção, que constitui nosso viver humano, e não nos damos conta de que todo sistema racional tem um fundamento emocional.” (MATURANA, 2002, p. 14-15).

Individuar-se é tornar-se um indivíduo, tornar-se si-mesmo, ou seja, aquilo que de fato somos. Nossa identidade pessoal livra-se dos invólucros da persona e a personalidade livra-se do poder sugestivo das imagens primordiais, ou seja, da possessão pelos complexos. O ego é, então, assimilado ao self.