Prática de Vida Integral

No momento em que vivemos a palavra revolução nunca esteve tão em voga, devido principalmente às trasformações políticas, sociais, tecnológicas e ambientais vivenciadas em diversos níveis. Neste sentido, este artigo procura demonstrar, através do embasamento da teoria integral, que qualquer processo de trasformação só se sustenta quando é enraizado profundamente na própria consciência. Basicamente, não mudamos aquilo que não temos consciência. A abordagem integral proposta pelo filósofo Ken Wilber, se propõe a oferecer um modelo destinado a ser usado como um mapa, que nos permita navegar por este universo de transformações, definindo-se um rumo através do sentido estabelecido pela própria consciência. 

Entende-se, desta maneira, que todo processo de mudança ocorre de dentro para fora, no sentido do micro para o macro. Por isso, a mudança da própria consciência, enquanto transformação da percepção de si e do mundo, é o ponto de partida para uma revolução integral. Desta forma, não corremos o risco de sermos arrastados por uma avalanche de transformações externas, e perdermos o sentido básico de realização que se estabelece fundamentalmente pela consciência daquilo que se entende como o “sentido da vida”. 

É preciso que, antes de nos lançarmos ao mar das transformações, além dos pressupostos comportamentais, sejam considerados também os processos que favoreçam à tomada de consciência de quais aspectos precisam ser transformados dentro da visão de si, e consequentemente na visão de mundo, para que esta mudança também faça sentido para o seu psiquismo. Desta forma se torna impossível, nos processos atuais de mudanças estratégicas comportamentais, separarmos as transformações externas das internas.  

A abordagem integral procura contemplar no seu mapa de transformação uma visão complementar para todas as teorias, abordagens e perspectivas de desenvolvimento, a partir da pluralidade de enfoques que se possa obter num quadro multi visão. Este quadro é referido por uma sigla chamada AQAL, em iglês um anagrama que significa All Quadrants, All Levels. A tradução literal seria “todos os quadrantes e todos os níveis”

Primeiramente, os quadrantes se referem as perspectivas básicas que podemos atingir numa atitude integral, basicamente diferenciamos quatro lentes. Estas lentes se distinguem pelo entrecruzamento de dois pares de opostos, que representam as perspectivas e o modo de organização básico do ser humano. Descritos aqui como os aspectos internos (subjetivos) e externos (objetivos), cruzados com as dimensões do individual e do coletivo. Este cruzamento resulta nos quatro quadrantes intitulados como: Consciência (o interior do indivíduo) Comportamento (exterior do indivíduo) Cultura (Interior do Coletivo) e Sistemas (Exterior do Coletivo). 

A partir daí os níveis, ou estágios, de evolução crescem através das multiplas linhas de desenvolvimento, seguindo um princípio orgânico através de um movimento cíclico que se assemelha ao processo de respiração, pois se dá como ondas que evoluem e involuem, numa dinâmica que expressa a expansão e integração de alguns potenciais e recursos. 

Isto ilustra mais um conceito da teoria integral que  representa os estados de consciência como um ingrediente fundamental do processo de mudança. O que significa que ao longo do processo de transformação teremos estados de consciência expansivos que significam a evolução, o desenvolvimento e o crescimento de habilidades e competências. 

Porém, teremos a necessidade de alguns estados integrativos que se referem aos movimentos de elaboração e assimilação destes mesmos potenciais, estes períodos podem ser erroneamente identificados como períodos de estagnação ou até mesmo involução, e na prática podem se manifestar exatamente desta maneira. 

Porém, subjetivamente, estão ganhando sentido e significado, através de um processo de elaboração simbólica, quando são definitivamente apreendidos pela consciência, incorporados e assimilados como técnicas e novos comportamentos. Por isso, os estados são passageiros, mas os níveis são permanentes. 

Cada vez que vamos e voltamos através dos estados expansivos e integrativos, nunca voltamos ao mesmo ponto original, porém, com mais consciência pela vivência do estado anterior. De tanto irmos e virmos neste movimento cíclico e ondular, em algum momento vamos e não voltamos, e uma vez que isso acontece a mudança é definitiva. Assim evoluímos através dos níveis de consciência.

Desta forma, podemos dizer que os estados superiores incluem os estados inferiores, o que representa a imagem de um holograma. Isto expressa a máxima da teoria integral que significa incluir para transcender. 

Ou seja, todo o processo de transformação parte do nível micro para o macro e o que impulsiona este movimento é o nível de consciência. Assim como forçou a evolução da vida a partir do cérebro repetiliano, passando pelo sistema limbico dos mamíferos, para chegar ao cortex racional humano. 

Estas estruturas orgânicas foram se desenvolvendo através de um aspecto evolutivo de acordo com o nível de consciência das espécies. De forma que, todas as funções evolutivas permanecem intactas e preservadas dentro da própria fisiologia humana. Toda consciência precisa de uma estrututra fisica de igual ou maior complexidade, que permita esta consciência existir e se manifestar.

Aquilo que nos impulsiona em direção ao crescimento são as experiências de pico. Descritas como as situações que nos colocam para fora da zona de conforto do desenvolvimento, e forçam a obtenção de novos recursos para lidar com condições até então desconhecidas. Este tipo de vivência, devido aos estados de consciência que é capaz de gerar, normalmente nos coloca em contato com alguns limites de determinadas linhas de desenvolvimento, fazendo refletir sobre nossas reais capacidades e necessidades. 

Resumidamente, as experiências de pico têm a capacidade de alargar nosso estado de consciência, o que permite enxergarmos a si próprios a partir de uma perspectiva mais ampliada. Isto pode ser o primeiro passo para o reconhecimento de uma necessidade de mudança, e consequentemente um compromisso para levar este desenvolvimento de consciência para o quadrante dos comportamentos. O que implica em estabelecer algum compromisso consigo mesmo, em relação àquilo que se prentende transformar.     

A principal função desta etapa é reconhecer quais linhas de desenvolvimento precisam ser incrementadas, e poder determinar com honestidade o nível de proeficiência que cada uma delas se encontra. Esta auto avaliação pode se dar em diversos aspectos e assumir diferentes escalas de mensuração. Você poderá assumir o melhor sistema capaz de avaliar seus níveis de desenvolvimento para cada linha que for delineada no seu psicográfo integral. 


Assim, o modelo de desenvolvimento proposto por uma prática de vida integral é realizado de  forma modular. Na qual se estabelecem as linhas de desenvolvimento aonde são definidas quais práticas e suas respectivas frequências farão parte de sua da rotina, fazendo referencia às inteligências múltiplas identificas a patir do seu psicográfo integral. 

Antes de começar a elaborar o seu mapa integral, é preciso compreender que cada tipo psicológico parte de pressupostos e preferências básicas que determinam a percepção de si e da realidade. Por exemplo, se pensarmos nas diferenças básicas entre um homem e uma mulher, notaremos diferenças gritantes sobre a forma como cada um enxerga e prioriza aspectos de suas vidas.

Assumindo o auto conhecimento como ponto de partida para o desenvolvimento, começaremos a elaborar cada um dos módulos que envolvem a prática de vida integral. Recomenda-se  aprofundar ainda mais a noção de auto conhecimento, explorando-se  alguns aspectos inconscientes que possam se tornar pontos de bloqueio para o trabalho, através do reconhecimento das emoções e crenças limitantes que ainda não estejam totalmente sobre o controle do orientando.

No módulo da sombra sugere-se que, a pesar de todas as capacidades do coach integral, sejam favorecidas práticas como a psicoterapia que permita se reconhecer a forma como se lida com os aspectos inconscientes. Principalmente através de projeções, atos falhos e emoções que escapem ao auto controle.  O espaço para o trabalho com a sombra é o lugar de elaboração simbólica da vida, que faz referência ao papel dos sonhos na fisiologia humana. Porém, é muito importante e ético que este trabalho seja desenvolvido por um profissional qualificado para lidar com estas questões.

Sabemos que os sonhos têm uma função de organizar os estimulos percebidos através do estado de vigília, e se assemelham aos estados integrativos como foram descritos ao longo do texto. Assim, o trabalho com a sombra é fundamental dentro de uma prática de vida integral, pois permite a integração dos aspectos inconscientes, e a transmutação desta energia psíquica em um potencial de transformação. Assim, no módulo seguinte trabalharemos com os aspectos relacionados ao corpo.

No módulo do corpo trabalha-se não apenas com objetivos de transformação do corpo físico em si, mas busca-se alcançar, através de práticas físicas, o acesso aos respectivos estados de consciência, permitindo que na prática estes sejam direcionados para os padrões de desenvolvimento que se deseja obter. Neste sentido, algumas práticas mais intensas e expansivas como musculação e exercícios aeróbicos favorecem o acesso ao estado de vigília. Enquanto algumas práticas integrativas como yoga e tai chi favorecem o acesso à estados sutis, através de posturas ou movimentos corporais suaves que facilitam os estados contemplativos, com a mesma referência fisiológica do sonho, como um processo de elaboração simbólica dos estimulos através da integração da mente e  do corpo. 

A pratica de vida integral busca o equilíbrio, favorecendo o acesso aos estados expansivos na vigília e integrativos na contemplação. Enquanto isso, alguns exercícios de meditação profunda exercitam o estado causal, que é quando a consciência se abre para um vazio profundo, em um equivalente fisiológico do sono profundo. Sendo que este estado favorece o contato com os universos mais intuitivos e criativos do ser, através da transcendência do corpo e do auto controle da mente. Assim, no módulo seguinte trabalharemos justamente com as práticas que estimulem o desenvolvimento mental.

O módulo da mente compreende que devem ser levados em consideração não apenas aspectos que visem ao desenvolvimento cognitivo por si só, entendendo a mente, sobretudo, como um órgão social. Os estados de conciência que se procura alcançar através do desenvolvimento dos aspectos cognitivos, intectulais e racionais, são aqueles que transcendam os estados descritos como egocêntricos, nos quais o conhecimento tem como única finalidade o enaltecimento do ego e do próprio orgulho, adquirindo assim um sentido comunitário ou até mesmo humanitário.

Partimos de um nível egocêntrico de relacionamento com o conhecimento, voltado à satisfação de necessidades básicas do nível pessoal, para atingirmos os níveis etnocêntricos, quando conseguimos aplicá-los ao bem comum de nossa própria comunidade. A fim de alcançarmos os níveis globocêntricos quando o conhecimento adquire um status de servir a causas humanitárias em aspectos univerais que transcendam a própria cultura.  

Como foi dito nós transitamos através dos níveis por meio dos estados de consciência, neste caso, os estados superiores de consciência desenvolvem-se através do sentimento de empatia, que representa a capacidade de se compreender a perspectiva do outro. Devido aos aspectos transcendentes que envolvem esta função, ela pode ser descrita como uma capacidade espiritual. 

Assim, o módulo do espirito, vêm se tornando uma realidade cada vez mais presente no mundo empresarial e corporativo, conforme vêm sendo resignificado dos aspectos religiosos e de um carregado senso moral, que não favorecem os aspectos de desenvolvimento propostos pela teoria integral.  

Serão previstos neste módulo as atividades que favoreçam a busca de um sentido mais amplo de vida, para além das satisfações do próprio ego. O que pode ser realizado por um caminho religioso ou não, mas sem dúvida desenvolverão um sentido de desapego do ego, ou valores como a generosidade e a caridade. Práticas que impliquem sobretudo na abertura da consciência para o outro, e estimulem o despertar e o desenvolvimento do arquétipo da alteridade.

Desta forma, percebe-se que o grande sentido de todo o trabalho da prática de vida integral, que parte da consciência e do auto conhecimento, segue pelas trilhas das mudanças comportamentais, buscando influenciar seu entorno através de um sentido compartilhado na cultura, e quem sabe atingir os níveis sistêmicos através de transformações sociais, políticas ou ambientais, é o caminho  de uma verdadeira revolução integral.